Telômeros: o suposto segredo da longevidade

Envelhecer é uma parte da vida. Entender por que envelhecemos ou o que causa o envelhecimento é um enigma que os cientistas ainda estão tentando resolver. Teorias abundam acerca do tema: é o estresse oxidativo danificando nosso DNA? A glicose é responsável? Nossas células estão apenas seguindo um cronograma biológico pré-programado, independentemente de quaisquer outros fatores? O mais provável é que seja uma combinação de todos esses fatores, além de algumas outras causas que ainda não descobrimos.

Uma teoria sugere que o processo de envelhecimento está, pelo menos, parcialmente ligado aos nossos telômeros.

Seu DNA está localizado dentro dos núcleos de suas células, onde é agrupado dentro de estruturas chamadas cromossomos. Cada cromossomo carrega informações genéticas específicas na forma de genes. À medida que as células do seu corpo se dividem, seus cromossomos precisam se replicar para que cada célula contenha um conjunto completo de cromossomos em seu núcleo.

Nas extremidades de cada um dos seus cromossomos, há trechos de DNA chamados telômeros. Os telômeros ajudam a proteger as extremidades de seus cromossomos de danos.

Continue lendo para saber mais sobre essas estruturas minúsculas, mas importantes, e por que elas poderiam abrir a porta para evitar doenças e reduzir os efeitos do envelhecimento.

 

O que são telômeros?

Os telômeros funcionam como os relógios internos de nossos corpos, determinando a taxa em que envelhecemos. Eles encurtam com o tempo à medida em que nossas células se dividem e, quando elas se tornam demasiadamente curtas, os cromossomos não conseguem mais se replicar e as células que os abrigam normalmente param de se dividir e passam por senescência (processo de envelhecimento das células), ou então morrem.

Esse encurtamento está associado a várias condições relacionadas à idade, como diabetes, hipertensão, doença de Alzheimer e câncer.

Essas “capinhas” formam malhas protetoras que salvaguardam as extremidades de nossos cromossomos de danos, do mesmo modo que um dedal protege o polegar de uma costureira. O termo telômero vem do grego: telos, que significa “fim”, e meros, que significa “parte”.

Quanto mais “velhos” os telômeros são, melhor eles protegem as extremidades de seus cromossomos. Mas nem todas as pessoas começam a vida com telômeros igualmente longos, e a extensão de seus telômeros é, pelo menos em parte, genética, segundo Jerry Shay, professor de Biologia Celular da Universidade do Texas, em Southwestern Medical Center, em Dallas, que estuda telômeros há décadas. Da mesma forma, nem todos os telômeros encurtam na mesma proporção, porque nem todas as células se renovam na mesma proporção.

Células no trato intestinal, por exemplo, se transformam a cada sete dias. Células no pulmão se transformam a cada seis meses. Mas em um intervalo de minutos, dezenas de milhões de novas células sanguíneas serão criadas no ser humano. Qualquer coisa que cause dano, pode encurtar os telômeros de uma célula. Fumar, por exemplo, pode reduzir drasticamente os telômeros nas células pulmonares – assim como aumentar o risco de câncer de pulmão.

O que acontece com os telômeros à medida que envelhecemos?

Cada vez que uma célula se divide, 25 a 200 bases são perdidas das extremidades dos telômeros em cada cromossomo.

No entanto, não é certo se o encurtamento de telômeros é responsável pelo envelhecimento em humanos ou se é apenas um sinal de envelhecimento, como os cabelos grisalhos.

O estresse oxidativo explica a perda de entre 50 e 100 pares de bases por divisão celular. Acredita-se que a quantidade de estresse oxidativo no corpo seja afetada por fatores relacionados ao estilo de vida, como dieta, tabagismo e estresse emocional.

Bebês recém-nascidos tendem a ter telômeros que variam de 8.000 a 13.000 pares de bases. Foi observado que esse número tende a diminuir em torno de 20 a 40 pares de bases a cada ano. Então, quando alguém tiver 40 anos, poderá ter perdido até 1.600 pares de base de seus telômeros.

 

O que dizem as pesquisas sobre encurtamento de telômeros e envelhecimento

Em estudos de nível populacional, pesquisadores descobriram que os idosos têm telômeros mais curtos. Por ventura, as células com telômeros mais curtos não podem mais replicar. Isso afeta as células ao longo do tempo, levando a danos nos tecidos.

A maioria das células pode se replicar aproximadamente 50 vezes antes que os telômeros se tornem muito curtos. Alguns pesquisadores acreditam que os telômeros são o suposto “segredo da longevidade” e que há circunstâncias em que os telômeros não encurtarão. Por exemplo, as células cancerígenas não morrem (que é o principal problema) porque ativam uma enzima chamada telomerase que se soma aos telômeros quando as células se dividem.

Todas as células do corpo têm a capacidade de produzir telomerase, mas apenas certas células – incluindo células-tronco, espermatozoides e células brancas do sangue – precisam produzir a enzima. Essas células precisam se replicar mais de 50 vezes ao longo da vida, portanto, ao produzir telomerase elas não são afetadas pelo encurtamento dos telômeros.

Os telômeros mais curtos não estão associados apenas à idade, mas também à doença. De fato, o menor comprimento dos telômeros e a baixa atividade da telomerase estão associados a várias doenças crônicas evitáveis. Estas incluem hipertensão, doenças cardiovasculares, resistência à insulina, diabetes tipo 2, depressão, osteoporose e obesidade, como já mencionado em parágrafos acima.

 

Isso acontece com todos?

Não. E isso é uma grande surpresa. Pesquisadores na Suécia descobriram que os telômeros de algumas pessoas não ficam necessariamente mais curtos ao longo do tempo. Na verdade, eles descobriram que os telômeros de algumas pessoas podem até ficar mais longos.

E o que isto significa? Isso não está claro. Pode ser que essas pessoas tenham um incrível mecanismo antienvelhecimento celular; pode ser que eles tenham um sinal precoce de câncer (pesquisadores tentaram descartar isso), ou pode ser bastante sem sentido. O que sabemos com certeza é que o envelhecimento é muito mais complicado do que simplesmente observar o encurtamento dos telômeros.

A teoria dos telômeros é uma das inúmeras sobre o envelhecimento. Este é um campo em desenvolvimento, e novas descobertas podem refutá-lo ou podem levar esta teoria a desenvolver tratamentos para doenças e condições.

Flávia Valadares – Neurocientista Fundadora da Escola PraticaMente

plugins premium WordPress